terça-feira, 30 de outubro de 2012

PESQUISA: BULLYING - NOTÍCIA

Aproveitando o gancho do editorial publicado anteriormente, seguirá uma notícia sobre um fato ocorrido em  abril de 2011. Fato conhecido como o "Massacre de Realengo". 




Atirador entra em escola em Realengo, mata alunos e se suicida.




Segundo hospital, 11 estudantes morreram na Zona Oeste do Rio.
Atirador tinha 23 anos e foi aluno da escola.

Do G1 RJ
Wellington Menezes de Oliveira, homem que atirou contra escola municipal Tasso de Oliveira, em Realengo (Foto: Reprodução/TV Globo)Wellington Menezes de Oliveira, homem que atirou
contra escola municipal Tasso da Silveira,
em Realengo (Foto: Reprodução/TV Globo)
Um homem de 23 anos entrou em uma escola municipal na Zona Oeste do Rio na manhã desta quinta-feira (7), atirou contra alunos em salas de aula lotadas, foi atingido por um policial e se suicidou. O crime foi por volta das 8h30.
Segundo o diretor do hospital para onde as vítimas foram levadas, 11 crianças morreram (10 meninas e 1 menino) e 13 ficaram feridas (10 meninas e 3 meninos). As crianças têm idades entre 12 e 14 anos.
Segundo autoridades, o nome do atirador é Wellington Menezes de Oliveira e ele é ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, onde foi o ataque. Seu corpo foi retirado por volta das 12h20, segundo os bombeiros. De acordo com polícia, Wellington não tinha antecedentes criminais.
A polícia diz que ele portava dois revólveres calibre 38 e equipamento para recarregar rapidamen a arma. Esse tipo de revólver tem capacidade para 6 balas.
Segundo testemunhas, Wellington baleou duas pessoas ainda do lado de fora da escola e entrou no colégio dizendo que faria uma palestra.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, ele falou com uma professora e seguiu para uma sala de aula. O barulho dos tiros atraiu muitas pessoas para perto da escola.
O sargento Márcio Alves, da Polícia Militar, fazia uma blitz perto da escola e diz foi chamado por um aluno baleado. "Seguimos para a escola. Eu cheguei, já estavam ocorrendo os tiros, e, no segundo andar, eu encontrei o meliante saindo de uma sala. Ele apontou a arma em minha direção, foi baleado, caiu na escada e, em seguida, cometeu suicídio", disse o policial (veja abaixo a declaração, em reportagem do Jornal Hoje).
A escola foi isolada, e os feridos foram levados para hospitais. Os casos mais graves foram levados para o hospital estadual Albert Schweitzer, que fica no mesmo bairro o colégio.
Sobrevivente conta como foiUma das alunas lembra os momentos de terror na unidade. A menina de 12 anos disse que viu o atirador entrar na escola. Ela estava dentro da sala de aula quando ele abriu fogo contra os alunos.
“Ele começou a atirar. Eu me agachei e, quando vi, minha amiga estava atingida. Ele matou minha amiga dentro da minha sala”, conta ela, que afirma que estava no pátio na hora em que o atirador entrou na escola.
“Ele estava bem vestido. Subiu para o segundo andar e eu ouvi dois tiros. Depois, todos os alunos subiram para suas salas. Depois ele subiu para o terceiro andar, onde é a minha sala, entrou e começou a atirar”, completou.
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Diversas notícias e estudos feitos sobre o caso trazem uma informação em comum: O bullying.
Uma declaração do próprio assassino remete à isto:

Conforme debatido em posts anteriores o bullying não justifica atos de violência, mas explica.
São inúmeras as tragédias ocorridas por alunos e ex-alunos como forma de vingança contra os abusos cometidos.
Cleodelice Fante, pesquisadora do bullying escolar e doutoranda em Ciências da Educação pela Universidade de Ilhas Baleares, Espanha, publicou no site Psicologia.com.br uma análise aprofundada das motivações e consequências tanto para os agressores como para as vítimas de bullying:

Juntando a humilhação sofrida com transtornos psicológicos pré-existentes, como era o caso de Wellington Oliveira, filho de mãe esquizofrênica e que sempre apresentou comportamento recluso desde a infância, se tem casos como estes.
Abaixo um estudo feito sobre o caso de Wellington que mostra um pouco sobre sua rotina e comportamento recluso, o que o levou a sofrer diversos bullyings.


09/04/11 17:00 

Peça a peça, o retrato de Wellington 

de Oliveira, o Monstro de Realengo.

Wellington Menezes de Oliveira, o monstro de Realengo, premeditou a barbárie
Wellington Menezes de Oliveira, o monstro de Realengo, premeditou a barbárie Foto: Reprodução / Tv Globo

Guto Seabra

Da porta da casa na rua Jequitinhonha, em Realengo, Wellington Menezes de Oliveira avistava o campo de terra batida sempre apinhado de meninos. A bola, o futebol e a convivência eram nada atraentes ao garoto que preferia riscar o chão, sentado à calçada, e o isolamento de seus pensamentos. Menino bobo da sala, desprezado pelas menininhas e ridicularizado nas brincadeiras, cresceu sob a solidão infantil, mergulhou no mundo da internet durante a juventude e construiu uma crueldade. Aos 24 anos, no dia 7 de abril de 2011, Orelhinha — um de seus apelidos — saiu de sua casa, em Sepetiba, para revelar-se um monstro, o protagonista do massacre na Escola Municipal Tasso de Oliveira. Uma barbárie injustificável capaz de assombrar o Brasil.
Filho adotivo de dona Dicéia, morta em 2010, Wellington abraçou a solidão como companheira. Vivia na sociedade de um só. Justamente no subúrbio do Rio de Janeiro, onde jogar conversa fora faz parte do exercício santo de todo dia. O silêncio fazia dele um sujeito esquisito. Ia na padaria e não gastava mais do que três palavras. Inúmeras vezes, cruzou com vizinhos e abaixou a cabeça para não cumprimentar. Às vezes, trocava um "oi". Testemunha de Jeová, Wellington repetia o comportamento mesmo ao lado dos pais. Eles paravam para felicitar um conhecido e o filho temporão seguia em frente, diminuindo o passo para ser alcançado. No quintal de sua casa, em meio a histeria masculina num jogo de futebol, brincava. Sozinho.
No universo de Wellington não havia espaço para mais ninguém. No colégio, se espremia mais no mundinho próprio a cada vez que era motivo de chacota. Era o menino mais bobo da sala. As meninas não lhe davam bola. Apelidos eram criados. Foi chamado de Sherman, em alusão ao "nerd" que, no filme American Pie, inventava sucesso nas relações amorosas com as adolescentes. Certa vez, uma amiga de turma o flagrou socando as paredes da escola de raiva. Havia quem duvidasse de sua masculinidade e criaram o coro de "veadinho". Por mancar de uma perna, virou "Suingue" na boca dos gozadores. Sem entrosamento com os demais alunos, Wellington foi colocado na lata de lixo do pátio.
— Posso definir com segurança que o problema do Wellington era localizado no colégio. Ele escolheu para matar e morrer ali. Tenho dúvidas em relação à opção pelas meninas, é preciso ver o posicionamento das meninas na sala. Vai que elas sentassem na frente? — disse a $em criminologia Illana Casoy, autora dos livros Serial Killer — Louco ou Cruel?; Serial Killers made in Brasil —; O Quinto Mandamento: Caso de Polícia; — e A Prova e a Testemunha, sobre o caso da morte da menina Isabela Nardoni.
O adolescente de comportamento duvidoso tomou conhecimento de que sua mãe biológica, esquizofrênica, teria dito que "ele fora gerado no manicômio". Na internet, viajava em suas desilusões para alimentar-se de monstruosidade. Além de leituras religiosas que, em parte, foram colocadas em sua confusa carta de despedida, exercitava no Counter Strike seu golpe mais sujo — no jogo, é possível ser policial ou terrorista e efetuar a compra de armas, sendo o objetivo matar os adversários. Qualquer semelhança com a atrocidade não é mera coincidência.
A violência injustificada saía do virtual para o real. Seus irmãos já percebiam distúrbios no comportamento de Wellington. Um dos irmãos afirmou que ele iniciara tratamento psiquiátrico, mas abandonou. Uma irmã informou seu apego ao islamismo. A outra relatou que o caçula, estranhamente, manifestou apoio ao ataque nas Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001.
— Pelo que estamos vendo, a mãe era esquizofrênica. Isso influi muito na aparição da doença. Bullying (humilhação), que fique claro, não é a causa da doença. Tudo isso que o Wellington passava era sintoma da doença — afirmou o psiquiatra forense, Talvane de Moraes, acrescentando que o desenvolmento do distúrbio está entre 15 e 30 anos de idade.
Rejeição ou doença mesmo, Wellington conseguiu o primeiro emprego num lava-jato. Não retirou as impurezas do coração. Confirmando outras avaliações, manteve-se isolado e acabou ganhar o apelido de "Orelhinha" por causa do formato. Entre 20008 e 2010, trabalhou numa empresa de alimentos. Tímido ou introspectivo? Os funcionários faziam tais perguntas para decifrar Wellington. Sem resposta.
Há um ano, o jovem com traços de personalidade intrigante — que se revelaria macabra — passou a morar em Sepetiba, com a morte de sua mãe. Dona Dicéia conseguiu o desejo de dar uma casa ao filho adotivo. Mal sabia ela que o temporão faria dali seu quartel-general do mal. Sozinho, como gostava, arquitetou seus planos no vazio de sua mente. Por lá, era visto de calça e blusões pretos e uma maleta na mão. Não usava bermudas. Não bebia, não fumava. Diariamente, era visto sair pela manhã e retornar no entardecer. Na mercearia, comprava um refrigerante e se trancafiava no "QG". Já exibia uma barba enorme, com tom sombrio e mais enigmático à vizinhança, sempre interessada em saber detalhes daquele homem. Com precisão cirúrgica, de 30 em 30 dias, voltava a Realengo para cortar o cabelo. Para completar um quadro macabro, um gato preto era o animal de estimação. O isolamento era cada vez maior, na medida do objetivo em fazer uma maldade. Não tinha namorada. Tinha ódio. Nos últimos oito meses, visitava Realengo — tempo que a polícia estima que programou a atrocidade. Wellington era um colecionador de fracassos, era um fiel perfil de um psicopata: isolamento, histórico de decepções, desejo por culpar as pessoas (virgens, não virgens, pecadores), perda de emprego, fracasso amoroso. Adquiriu dois revólveres — um calibre 38 e outro, 32. Nos sites, aprendeu a manusear as armas, recarregá-las para executar a barbárie. Armazenou quase uma centena de entena de munições. Escreveu uma carta, rica em delírios, confusa em sua fundamentação.
— Em toda história, tem uma pré-história. E a dele é trágica, pelos relatos. Sofreu bullying, que é uma forma de humilhação, causa raiva e revela o sentimento de vingança — disse o teólogo e professor de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Leonardo Boff, à Rádio CBN.
Wellington era frio. A comunicação interna — sua mente maldosa — era calculista. Uma semana antes de matar crianças indefesas num ato brutal, o assassino visitou o diretor do colégio, Luiz Marduk, para pedir segunda via do histórico escolar. Covardemente, deu fim a vidas inocentes e fez questão de não deixar rastro de sua passagem pelo mundo ao sumir com o "HD" (disco rígido) do computador. Construído virtualmente, morto na invasão à escola, o Monstro da Tasso de Oliveira é real. Infelizmente."

Na mesma linha de pensamento que o blog Palavras Cruzadas, o blogueiro Vinicius Fleury, do blog Livro Mecânico, considera que o facto de Wellington ter sido vítima de “problemas incomuns” na escola, ter “propensão a problemas psicológicos”, e “não ter tido nenhum suporte” são “explicações” para o tiroteio, embora não o justifiquem:










Acessado em: 30.10.2012



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